Desde os primórdios, os homens já contavam suas histórias por meio de gestos, arte rupestre, etc. Talvez fossem verdadeiras, talvez não. Mas, de qualquer forma, passavam sua mensagem. Só que se, hoje, eu saísse pintando as paredes por aí, provavelmente, seria preso. Então, faço desse blog minha caverna. Sejam bem-vindos.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sonho meu...

Estava sentada, eu entrei sem olhá-la. 


Fazia das outras simples decoração, impedimento, talvez, para não deixar dizer tudo o que passava em meus pensamentos. Com todos os sentidos direcionados àquele belo ser, cumprimentei vultos, pelo menos em minha percepção. Seus olhos eram pequenos, carregados de doce sinuosidade. Eles sorriam para mim, mesmo que olhando para o nada. Deixei-a por último, quiçá por medo. Fiz um leve movimento com a cabeça. Uma pequena saudação, que não interferisse na beleza divina daquela criatura. Chamo-a de criatura, por não saber bem o que é. Se menina ou mulher. Se anjo ou demônio. 


Quase que de repente, respondeu-me. Chamou meu nome, como quem diz “olá”. Fui, imediatamente, hipnotizado. Como se descobrisse o mais perfeito coral entoando o meu nome. A maneira como cada letra se soltava por seus lábios. A voz doce e insinuadora, tudo conspirava para enlear meus sonhos. E como sonhei. Dei-lhe um beijo no rosto, pude sentir sua pele macia. Ao encostar minha boca em suas bochechas, imaginei como seria saborear seu corpo por inteiro. Usava roupa que deixava à mostra suas desenhadas pernas. Coxas que quase não consegui enxergar. As escondia, pelo menos tentava, por debaixo de mais uma peça, algo como uma blusa. Sempre instigando minha total desorientação. 


Nossos olhares se cruzaram por alguns instantes. Ela sabia que eu a queria. A noite foi cheia de olhares - sempre partidos de mim -, sempre sorrateiros, já que estavam algumas pessoas em volta. Mero sussurro seu era como droga, durante aquela madrugada. Passei horas em êxtase, senti seu cheiro que fluía na brisa da alvorada. Levantei-me para ir ao banheiro. Na verdade, nem lembro onde fui. Já vinha bebendo há algumas horas. O álcool sempre me deu coragem com as mulheres. Só havia esquecido que ela não era uma simples mulher. 


Ao voltar para onde estavam todos, fui tomado por uma emoção ainda não descoberta pelos homens. Porventura, os de sorte. Eu a vi. Estava ali, como um querubim que brinca nos arredores do céu. Ela admirava os peixes de um aquário. Eu, algo tão belo quanto a natureza pudesse criar. Consegui gelificar qualquer possibilidade de comunicação, fosse ela por fala ou gestos. Ela me fitou e sorriu. Balbuciou algumas palavras, tinha me garantido mais uma dose daquela voz que me entorpecia. Fiz os comentários mais tolos de toda minha vida. Só precisava dar uma resposta simples e beijá-la. Mas, justo com ela, precisei mostrar o quão covarde posso ser. 


Não tento justificar o porquê a deixei partir sem lhe roubar um beijo, sem sentir em minhas mãos o calor de seu corpo. E, finalmente, torná-la minha. Já tentei a substituir com outras, todas meramente distração. Beijei, toquei, senti diversos corpos, diferentes mulheres. Não adianta, preciso dela. Estou, por tempo indeterminado, alugado à vontade daquela utopia feminina. 


Não sei se a terei um dia. Mas continuo sendo dela pelos que seguem.

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