Desde os primórdios, os homens já contavam suas histórias por meio de gestos, arte rupestre, etc. Talvez fossem verdadeiras, talvez não. Mas, de qualquer forma, passavam sua mensagem. Só que se, hoje, eu saísse pintando as paredes por aí, provavelmente, seria preso. Então, faço desse blog minha caverna. Sejam bem-vindos.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Parti

Ainda podia sentir meu corpo cansado caído sobre seus braços. Seria por pouco tempo, ela sabia que eu tinha pouco tempo. Queria dizer o quanto a amava, mas era inútil. Meus olhos fitavam o teto, onde o mofo já tinha tomado conta de boa parte. Ela havia me pedido que pintasse aquilo faziam alguns meses. Eu não o fiz, estava muito cansado como de costume. Até na hora de morrer minha preguiça me deu mais alguns minutos.
As únicas lágrimas que escorriam em meu rosto eram as que caiam dos olhos dela. Ela estava mais triste pela minha partida do que eu mesmo. Podia sentir a dor da lâmina próximo ao meu peito. A arma agora estava atirada no chão, toda ensanguentada. Lembrei de todos os momentos em que a fiz mal. Seus longos cabelos loiros cobriam meu rosto. Podia sentir aquele cheiro, seu toque. Ela segurava minha mão contra sua face, sentia o calor das maças de seu rosto. Ouvindo seu choro, lembrei das diversas vezes que a fiz chorar da mesma forma. Dessa vez não ia ser em vão. Era o melhor que podia ter acontecido aos dois. 
Eu não podia mais fazer parte do seu mundo. Simplesmente, por que estava acabando com ele. As paredes da cozinha me traziam as piores recordações. Já que, se eu estivesse presente, tinham que ser as piores. Perdi a conta de quantas vezes a espanquei ali mesmo. Era incrível, mesmo depois de a decepcionar, continuava ao meu lado. Como das outras vezes. Agora, já não interessava se ela que tinha cravado aquela faca em mim. Agora, eu tinha a perdido. Parti.