tag:blogger.com,1999:blog-67708433694629361942024-02-20T09:45:45.496-08:00Contos de um luminarContos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.comBlogger11125tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-28818991551216401882011-05-24T20:09:00.000-07:002011-05-24T20:09:11.575-07:00O lugar onde era proibido sorrir<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">O ano é de 2150, os problemas são diversos. A economia ia de mal a pior. Já que em 2085 um surto de corrupção tinha acabado com as finanças mundiais. Não existiu país que não ficou arruinado. Agora, permaneciam, somente, duas classes sociais. Os muito ricos e os sem nada. Os recursos naturais também haviam sumido. Ou melhor, sido gastos. Exploraram toda e qualquer substância extraída da natureza que pudesse dar lucro. Na vã esperança de salvar as finanças terráqueas. Isso aconteceu em 2100, 15 anos depois da grande crise. Dessa forma, tudo que fosse relacionado à natureza era imprevisível. Temperaturas que variavam do negativo ao mais forte calor do deserto, furacões diários, terremotos na mesma intensidade, tsunamis que fariam as do início do século XXI ser chamadas de marola. Se não me engano, há muito tempo, certo presidente do Brasil se referiu a uma crise financeira mundial como marola. E, realmente, aquela foi perto das que viriam. Porém, o pior não era esse compilado de problemas pelos quais passava o mundo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">Uma lei internacional – decretada em 2101 – dizia que, já que passávamos por uma situação horrível (alguns diziam que era o Apocalipse), ninguém poderia expressar felicidade, ou usar artifícios que a despertassem nos outros. Sim, estávamos fadados a uma vida sem um único sorriso, sem alegria alguma. Argumentavam os líderes não haver motivo para se ser feliz, logo, os que fossem, estariam debochando da situação do planeta, ou seja, crime. A sentença era a pena de morte. Ninguém cumprimentava ninguém nas ruas, as famílias já não conversavam mais – a não ser assuntos sérios, muito sérios – não existia mais música, cinema e teatro. Claro, menos as letras que falavam de dor, os filmes de drama e as peças de tragédia. Tudo era cinza, até quando o sol aparecia imponente perto do almoço, sempre depois do inverno matinal. Alguns rebeldes até tentaram revolucionar. Uma vez um protesto de 200 pessoas saiu às gargalhadas nas ruas. Eles riam alto em frente aos órgãos públicos, contavam piadas e , acreditem, faziam cócegas uns nos outros. Foram todos fuzilados. Triste, mas era isso que queriam os poderosos. Os mais boêmios, aqueles que viviam em bares chorando, os moradores de rua (agora, 60% da população), esses sabiam de um lugar secreto. Chamavam de “Beco da Airgela”. Nome difícil para quem não está acostumado a pronunciar. Mas se prestasse bem atenção na segunda palavra que denominava o local e a lê-se de trás para frente, entenderiam o seu significado. Como já devem imaginar, é um local ilegal onde se vende alegria. Felicidade na sua mais pura essência. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">Certa vez um amigo que foi ao lugar, contou-me como funcionava. Segundo ele, no momento em que ia entrando pela viela, um menino o abordou e disse: “Ei, parceiro! Posso te vender uns “baratos” aqui.”. Ao que o homem respondeu: “E o que você tem?”. O menino olhou diversas vezes para os lados, como se estivesse com medo das autoridades, mais conhecidos por DORR ( Delegacia de Operações Repressora de Risadas). O menino abriu o longo casaco que usava e tirou um livro de humor antiguíssimo, mas muito antigo mesmo. De um tal Jô Soares, dizem que era humorista século passado. Esses materiais velhos de colecionador eram os únicos que a DORR não tinha queimado ainda. Em seguida mostrou um livro de piadas. Na capa divulgava: “As melhores piadas de papagaio, português e médico!”. O livro estava na sua 4ª edição. O homem perguntou quanto era, ao que o meninos disse que aqueles estavam todos 100 dólares. O rapaz perguntou se o traficante de felicidade não tinha algo mais pesado, com muito cuidado, repetiu a frase trocando “pesado” por “engraçado”. O menino mais uma vez olhou desconfiado para os lados, e disse: “Tenho esses, mas, já aviso, são caros!”. Tirou para fora dois filmes. Um de um homem, que acredito ser mudo, já que não se ouvia nada em seus filmes, mas de certa forma era engraçado. Um fulano, cujo segundo nome era Chaplin, se não me falha a memória. O outro era uma única cena comédia, feita por um amador chamado Chico Anísio. Foi aí que o menino, mostrando as mãos ao homem, perguntou: “Posso te fazer cócegas também. Mas, são 500 dólares. Quer?”. Meu amigo ficou com medo de ser pego pela DORR, então, recusou a proposta e foi embora do “Beco da Airgela”. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">Não sei mais como vai ser daqui pra frente, mas me pergunto todos os dias por que deixaram a situação chegar nesse ponto. É tão trágico, que chega ser engraçado. Claro, se achar graça não fosse crime atualmente.</span></div><br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"><br />
</span></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"><br />
</span></span>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-22282088066267944522011-04-26T21:22:00.000-07:002011-04-27T08:29:38.640-07:00Parti<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"></span>Ainda podia sentir meu corpo cansado caído sobre seus braços. Seria por pouco tempo, ela sabia que eu tinha pouco tempo. Queria dizer o quanto a amava, mas era inútil. Meus olhos fitavam o teto, onde o mofo já tinha tomado conta de boa parte. Ela havia me pedido que pintasse aquilo faziam alguns meses. Eu não o fiz, estava muito cansado como de costume. Até na hora de morrer minha preguiça me deu mais alguns minutos.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"></span>As únicas lágrimas que escorriam em meu rosto eram as que caiam dos olhos dela. Ela estava mais triste pela minha partida do que eu mesmo. Podia sentir a dor da lâmina próximo ao meu peito. A arma agora estava atirada no chão, toda ensanguentada. Lembrei de todos os momentos em que a fiz mal. Seus longos cabelos loiros cobriam meu rosto. Podia sentir aquele cheiro, seu toque. Ela segurava minha mão contra sua face, sentia o calor das maças de seu rosto. Ouvindo seu choro, lembrei das diversas vezes que a fiz chorar da mesma forma. Dessa vez não ia ser em vão. Era o melhor que podia ter acontecido aos dois. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"></span>Eu não podia mais fazer parte do seu mundo. Simplesmente, por que estava acabando com ele. As paredes da cozinha me traziam as piores recordações. Já que, se eu estivesse presente, tinham que ser as piores. Perdi a conta de quantas vezes a espanquei ali mesmo. Era incrível, mesmo depois de a decepcionar, continuava ao meu lado. Como das outras vezes. Agora, já não interessava se ela que tinha cravado aquela faca em mim. Agora, eu tinha a perdido. Parti.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-23729891769650942342011-03-23T19:41:00.000-07:002011-10-31T20:22:29.515-07:00O que se sabe sobre o tempo.<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Marcha furiosamente, acabando consigo mesmo<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Tem destino certo aos que chegam ao seu final<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">E, aos que estreiam, o itinerário é sempre ideal<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Torna feio os novos, velho os bonitos<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">É delongado quando a ti não convém o ser<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">E pontual quando chegada a hora de embater<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Uns Falam em viajar por ele<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Outros em o congelar e enganá-lo, esperando que passe<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Os que ele já levou riem, por pensar, um dia, que algo o ludibriasse<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Sorrateiro, nos faz pensar que não virá<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Como os vestidos soprados pelo vento<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim, descreve-se o inevitável, o tempo</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></div>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-76035702382274463842011-02-21T18:55:00.000-08:002011-02-21T18:56:14.070-08:00Obra da vida...<div class="MsoNormal"></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Como canta pesado o galo ás seis horas da manhã de uma sexta-feira. Talvez ele saiba que a situação anda propícia para que o assem. Mal sabe ele que seu canto esganiçado acaba de acordar um homem. Ele tem diversos nomes, pode ser João, Manoel, Paulo, Joaquim, até Euclides. Porém, hoje, é José. Levanta-se da cama de forma decorada. Depois de anos, desvia com destreza das cinco crianças que dormem espalhadas pela casa. Caminha pela única peça do barraco em direção a um pequeno balde azul, perto da porta. Balde que, aqui, é conhecido como banheiro. Depois de feito o ritual matinal – sem café da manhã, já que não se encontra comida na casa – vai para rua, onde despeja os dejetos em qualquer canto. Só agora, mesmo com o céu ainda escuro, mostra-se um homem envelhecido. Não pela idade, mas pela dor. Os cabelos crespos e negros, tez escura. Olhos verdes e belos de um jovem de 32 anos. Cercados, é claro, por rugas profundas, marcadas sem dó pelo sol. Alguns dizem que é um pecado olhos tão vivos serem rodeados por vincos tão tristes. Como um Cézzanne em moldura feia, desgastada. </span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Era forte, peito e ombros largos. Um milagre, pois não se alimentava direito. Contudo, poderia ser resultado do trabalho de pedreiro – profissão que herdara do pai – um exercício árduo todos os dias. Exercício foi uma maneira menos cansativa de expressar o que faz José. Poderia muito bem chamar de sacrifício. Com o perdão da rima. Vestia uma de suas três camisetas e uma calça jeans desbotada. No pescoço e tornozelo, trazia as guias de sua religião. De família tradicional negra, sempre cumpriu suas obrigações com o Candomblé. Morava em um conjunto habitacional irregular de famílias de baixa renda. Mais conhecido como favela, ou invasão. As ruas não tinham nomes, pelo menos, não registrados. Por exemplo, o beco onde mora José é chamado de “arranca chinelo”. Nome auto-explicativo, e disso as Havaianas de José sabiam bem. Por fala nisso, o prego que segura as tiras do chinelo velho, machucavam José mais do que o comum hoje. Deu um beijo nas crianças que ainda continuavam dormindo. Despediu-se da esposa e saiu. Afinal, precisava pegar dois ônibus para chegar até a obra que estava trabalhando atualmente. E o tempo dobrava indo de bicicleta, já que José não tinha dinheiro para a passagem. Passagem que tinha aumentado nessa semana. Ainda bem que calibrar o pneu era de graça. Enquanto pedalava, analisava tudo. O cenário geral. </span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">O caminho da vila onde morava até o centro da capital ia se transmutando aos poucos. Quadro a quadro, do inferno ao purgatório. Ao contrário do que muitos pensam, José terminou o Ensino Médio. Sem repetir nenhum ano. Sem atrasar nada. Sempre gostou de estudar. É um leitor inveterado dos jornais e apreciador dos noticiários radiofônicos. Os que conhecem o lado intelectual dele, não entendem por que segue trabalhando como um simples pedreiro. José é pedreiro por escolha, por tradição, por respeito a seu falecido pai. No fundo gosta do que faz. Assim como a paisagem do trajeto até o trabalho, que se desfaz e se reconstrói, ele gosta ver a evolução de tijolo por tijolo. Contemplar, no final, a estrutura que suas mãos ajudaram a fazer. Já pedalava há algum tempo, quando avistou um banco velho por onde passava todos os dias. Parou a bicicleta e a recostou na parte de trás do assento. Sentado, olhava para o céu ainda escuro, porém, agora, querendo dar espaço a claridade. José fechou os olhos, com a cabeça ainda erguida, parecia que esperava alguma coisa. Foi quando sentiu, que sensação maravilhosa. Um feixe de luz aquecia parte do seu rosto. Era um raio de sol que rasgava impiedosamente o nublado céu da manhã. Que magnífico. Luz, que na opinião de José, pintava o dia. Como um balde – dessa vez um balde mesmo, não um banheiro improvisado – de ouro derretido que escorria sobre a sombra a tornando bela. Amava o Sol, mesmo sabendo que era aquele Sol que fazia tanto mal à sua pele. Refletindo por aqueles minutos ali parado sob o a luz do astro rei, era como se passasse um filme em sua cabeça. Nesse momento se compreendia a genialidade daquele o homem. José entendia a importância da sua existência. Apesar de a maior parte dos seus semelhantes fazer pouco caso de sua vida. Para eles, era só mais um pobre coitado, com uma vida horrível. Fazia parte do atraso no processo civilizatório da sociedade. </span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Só que, aquele simples pedreiro, elucidava algo maior quando era tocado por aqueles raios de sol. Era privilegiado pela mesma sensação de quando construía uma casa e via o resultado de sua obra. Agora, José entendia que tinha um papel fundamental. Era o tijolo de uma construção incomensurável, muito maior do que as que está acostumado fazer. Ele, assim como todos nós, é uma peça-chave. Pegou a bicicleta e voltou a pedalar em direção a cidade. Seguia seu destino feliz e agradecido. Fazia parte, desde sempre, de uma construção desmedida e ininterrupta. A obra da vida.</span></div>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-87526198389040997402011-02-01T16:55:00.000-08:002011-10-31T20:24:50.434-07:00Olhar só<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Ela entrou, fazendo de todos platéia do divino<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Transmutando cada homem em mero menino<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Decoração, talvez, para aqueles olhos azuis penetrantes<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Olhos sorrateiros, inelutáveis, nunca vistos antes<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Não eram bons, nem ruins. Eram de redenção.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Olhar impecável onde se encontrava alívio. Perdão.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Perdão por cobiçar aquela perfeita criatura,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Quiçá por pensar que não existe aparente doçura<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Entretanto, o belo ser que faz de tantas gargantas nó<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Não carrega olhar misterioso, apenas o de quem está só.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-26388845712056999942011-01-27T17:49:00.000-08:002011-10-31T20:25:23.179-07:00Mil anos de dor...<div class="MsoNormal"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Estava sentado naquele velho banco. Pontual como sempre. Apoiava as duas mãos trêmulas sobre uma comprida bengala envernizada. Trajado com um belo terno, aquele senhor - alguns diziam ter 1000 anos, dos quais só 89 constavam nos documentos - olhava para o nada. A garoa fina caia, o sol refletia nas gotas que escorriam sobre o tecido levemente azulado. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Tinha como ritual diário, a observação da praça. Ficava durante horas, analisando cada centímetro, planta por planta, pedra por pedra. Na verdade, conhecia aquilo tudo melhor que os próprios canários que cantavam todos os dias incessantemente. Tinha a pele clara, já enrugada. Mas, apesar da idade, se via um homem bonito e muito vaidoso. Cruzava as longas pernas de modo refinado. Esteticamente estava sempre impecável. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Não tinha amigos, pelo menos, não vivos. Os únicos que conhecia eram amigos de sua falecida esposa. Ela já havia morrido há 10 anos. E com ela a felicidade daquele homem. Não tiveram filhos, não pela falta de vontade, contudo, por que ele era estéril. Ele lembrava de sua amada todas as vezes que ia até aquela praça. De fato, não tinha como não lembrar, já que, ela havia morrido naquele local. Tinha sido assassinada. A pergunta que todos faziam era por que uma mulher tão bela, amável, fiel, ou como a definiam, digna de perfeição, teria sido sufocada até a morte. Nada respondia. Ela foi covardemente asfixiada. Pelo que diziam os policiais, foi pega de surpresa. Não tinha marcas de reação da vítima, o que intrigava mais ainda. Desde a morte daquela mulher, este homem, hoje, um senhor sentado no banco, sofria infinitamente. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Recordava de como ela fora grande esposa e profissional bem-sucedida. Como era o orgulho de muitos, e objeto de inveja para alguns. Porém, mesmo invejada, não cultivava inimigos. Uma lágrima descia agora pelo rosto do velho. Muitos diziam que era arrependimento de não ter dado a única coisa que faltou aquela mulher, um filho. Outros diziam que chorava por querer morrer logo, e, assim, encontrar-se com ela. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Mas, o real motivo de seu choro, era o puro arrependimento. Remorso por ter matado brutalmente o único e verdadeiro amor de sua vida. Por alguns anos tentou justificar para si o ato, tentando encontrar defeitos, traições, momentos em que sua mulher lhe faltou com as obrigações. De nada adiantou. Foi motivado por ciúmes. Sentia-se inferior diante de tantas virtudes de sua parceira. Tinha assassinado um anjo por invejar as suas belas asas. Sua vontade era morrer ali mesmo, naquele instante. Entretanto, não teria coragem de se matar, sempre foi um covarde. E exames indicavam uma saúde de ferro. Não tinha, sequer, uma simples gripe há exatos dez anos. Fato que atribuía a uma punição divina pelo pecado de ter dado fim à vida de uma criatura inocente. Cada segundo que passava parecia um dia. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Talvez não estivessem tão equivocados os que acreditavam que ele tivesse mil anos. Mas, nesse caso, todos de dor.</span></div></div>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-2163992728530904562011-01-19T17:54:00.000-08:002011-10-31T20:08:30.587-07:00Sonho meu...<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Estava sentada, eu entrei sem olhá-la. </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Fazia das outras simples decoração, impedimento, talvez, para não deixar dizer tudo o que passava em meus pensamentos. Com todos os sentidos direcionados àquele belo ser, cumprimentei vultos, pelo menos em minha percepção. Seus olhos eram pequenos, carregados de doce sinuosidade. Eles sorriam para mim, mesmo que olhando para o nada. Deixei-a por último, quiçá por medo. Fiz um leve movimento com a cabeça. Uma pequena saudação, que não interferisse na beleza divina daquela criatura. Chamo-a de criatura, por não saber bem o que é. Se menina ou mulher. Se anjo ou demônio. </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quase que de repente, respondeu-me. Chamou meu nome, como quem diz “olá”. Fui, imediatamente, hipnotizado. Como se descobrisse o mais perfeito coral entoando o meu nome. A maneira como cada letra se soltava por seus lábios. A voz doce e insinuadora, tudo conspirava para enlear meus sonhos. E como sonhei. Dei-lhe um beijo no rosto, pude sentir sua pele macia. Ao encostar minha boca em suas bochechas, imaginei como seria saborear seu corpo por inteiro. Usava roupa que deixava à mostra suas desenhadas pernas. Coxas que quase não consegui enxergar. As escondia, pelo menos tentava, por debaixo de mais uma peça, algo como uma blusa. Sempre instigando minha total desorientação. </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nossos olhares se cruzaram por alguns instantes. Ela sabia que eu a queria. A noite foi cheia de olhares - sempre partidos de mim -, sempre sorrateiros, já que estavam algumas pessoas em volta. Mero sussurro seu era como droga, durante aquela madrugada. Passei horas em êxtase, senti seu cheiro que fluía na brisa da alvorada. Levantei-me para ir ao banheiro. Na verdade, nem lembro onde fui. Já vinha bebendo há algumas horas. O álcool sempre me deu coragem com as mulheres. Só havia esquecido que ela não era uma simples mulher. </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ao voltar para onde estavam todos, fui tomado por uma emoção ainda não descoberta pelos homens. Porventura, os de sorte. Eu a vi. Estava ali, como um querubim que brinca nos arredores do céu. Ela admirava os peixes de um aquário. Eu, algo tão belo quanto a natureza pudesse criar. Consegui gelificar qualquer possibilidade de comunicação, fosse ela por fala ou gestos. Ela me fitou e sorriu. Balbuciou algumas palavras, tinha me garantido mais uma dose daquela voz que me entorpecia. Fiz os comentários mais tolos de toda minha vida. Só precisava dar uma resposta simples e beijá-la. Mas, justo com ela, precisei mostrar o quão covarde posso ser. </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não tento justificar o porquê a deixei partir sem lhe roubar um beijo, sem sentir em minhas mãos o calor de seu corpo. E, finalmente, torná-la minha. Já tentei a substituir com outras, todas meramente distração. Beijei, toquei, senti diversos corpos, diferentes mulheres. Não adianta, preciso dela. Estou, por tempo indeterminado, alugado à vontade daquela utopia feminina. </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não sei se a terei um dia. Mas continuo sendo dela pelos que seguem.</span></span></div>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-79969404987534175992011-01-12T18:29:00.000-08:002011-01-12T18:59:59.550-08:00Por trás dos pensamentos<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"> Era o mesmo ritual de todas as manhãs. Já tinha decorado os minutos, dava o tempo exato de dois cigarros. Ficava recostado na grade amarela da passarela que me separava da rodovia alguns metros abaixo. Ela sempre vinha apressada, e corria para pegar o trem. Eu fingia que não a via passar, logo, depois de dar alguns metros de distância, saia atrás. Corria de maneira leve, em cima de saltos finos e compridos. Parecia impossível alguém se equilibrar com tamanha graça e beleza em cima daqueles sapatos. Mas eles tornavam seus pés 35 mais perfeitos, se isso é possível. Descia as escadarias com pressa, eu fazia o mesmo, só que com a maior discreticidade possível. Esperava entrar duas portas depois de mim, sempre no mesmo vagão. Ela se escorava nas portas do lado que elas se mantinham fechadas. Abria sua bolsa e pegava um livro. Lia uma biografia de George Orwell. Já tinha lido algumas obras durante o tempo em que a analiso. Por falar nisso, hoje é nosso aniversário de nove meses de observação. Contei para alguns amigos, me chamaram de louco. Usava sempre a desculpa de que nosso "relacionamento" estava evoluindo. Mês passado, enquanto bocejava, ela olhou para mim. Foram só alguns segundos, mas foram intensos. Eu senti a vibração entre a gente. Fazia sempre o mesmo gesto, no tempo que ficava lendo. Passava a mão em sua franja, colocando-a para trás da orelha direita, repetia isso mil vezes, já que os fios insistiam em escapar. Tinha o cabelo negro e liso. Quando admirava esse momento, podia sentir a maciez, o cheiro e era como se eu arrumasse cada fio de sua franja. Era a criatura mais linda que eu já tinha visto. E tinha estilo. Eu gostava de suas roupas. Hoje, vestia uma blusa que cobria um só ombro, com uma imagem em preto e branco da Marilyn Monroe. A calça jeans era apertada, justa nas pernas. Essas calças sempre realçavam seu corpo. Com todo o respeito que tenho por aquele belo ser, que bunda ela tem. Hoje eram sapatos, mas, geralmente, calçava um par de All-Stars brancos. Ao mesmo tempo em que me passava doçura e, por que não, ingenuidade, me proporcionava os melhores sonhos eróticos. E o melhor, acordado. Seguia os vinte e poucos minutos de viagem nessa condição. Eu hipnotizado, e ela como sempre. Sem me dar uma única pista do que pensava. Por um lado era bom, me deixava livre para imaginar os mais impossíveis devaneios. Tinha traços suaves, os olhos tinham linhas orientais. O nariz era pequeno, e um pouco arrebitado. Mas o melhor era sua boca. Quando mordia os cantos dela me convidava para sonhar com um beijo. Fantasiava tocar aqueles lábios esculpidos, assim como o resto do corpo. Eu pensava em dizer para ela tudo o que vinha imaginado esse tempo todo. Formulava várias maneiras de fazer isso. Pensei que se eu simplesmente parasse em sua frente, a encarasse por alguns segundos, e a beijasse, tudo se resolveria. Nesse momento, meu sonho é interrompido. O piloto pede que todos saiam do trem, tínhamos chegado à última estação. Vejo partir a menina que alimentava o meu sonho de todas as manhãs. Mais um dia não tive coragem. Mais um dia à perdi.</span></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">***</span></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span> Mais uma vez eu subia a passarela e o via parado, fumando um cigarro. Não gostava de cigarro, mas confesso que ele fazia aquilo parecer mero detalhe. Ficava até mais atraente. Eu passava apressada, fingindo não saber que ele me seguia, o difícil era caminhar rápido e me equilibrar nos saltos. Descia as escadarias correndo e alternava a velocidade com que caminhava, era engraçado o ver tentando me seguir, sem levantar suspeitas. A primeira vista me pareceu patético e doentio, agora, achava “bonitinho”. Sempre entrava duas portas antes de mim. Ele jurava que eu não via. Entrava e me apoiava em uma das portas. Não parava de me olhar. Eu mantinha o maior cuidado para não deixar que me visse olhando para ele. Nosso “caso” já durava uns oito meses, eu acho. Enquanto lia, via que ele me observava à viagem inteira. Nunca li um capítulo se quer dos livros. Para ser sincera, levava obras que já tinha lido. Usava o papel como refúgio caso ele me visse o encarando. Ele tinha o cabelo bagunçado, a barba por fazer. Mas tudo de maneira bonita. Tinha cara de mau, de safado mesmo. Isso me excitava. Contudo, o jeito com que tomava cuidado para que não notasse seus olhos me fitando incessantemente, como uma fera analisa sua presa, me fazia conhecer seu lado romântico. Eu gostava disso. Hoje, usava uma camisa gola V branca, um pouco justa, o que realçava seu corpo malhado. Nós pés usava um tênis marrom, combinando com a calça jeans. Quando ele se distraía, podia o analisar por mais tempo. Algumas vezes imaginava um jeito de atraí-lo. Vontade não me falta, mas o que sentia por ele era mais do que simples atração física. Não sei explicar direito. Certa vez, ele me encarava, como de costume, e em um lapso deixei escapar-lhe um olhar. Direto e confessional. Foi o suficiente para ficar arrepiada o resto do tempo. Por sorte, o desviei rapidamente. Acho que ele não notou, até por que, se tivesse notado, teria feito alguma coisa. Aqueles quase trinta minutos viajando sobre a observação dele, me deixavam esperançosa. Eu torcia para que me beijasse sem avisar, apenas me olhasse por poucos segundos. Eu entenderia. Esperava isso toda vez que estávamos chegando ao fim da linha. Mais uma vez, o piloto anuncia a chegada na última estação. Acho que não dou brecha. Deveria começar a lhe dar mais sinais. Sai caminhando sem olhar para trás, tentando imaginar o que ele estaria pensando. Mais um dia não tive coragem. Mais um dia o perdi.</span></div>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-41255367167343515322011-01-05T19:01:00.000-08:002011-10-31T20:11:48.704-07:00O que passa<div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O sol bate pela manhã na cortina<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Fazendo um degradê na tua pele latina<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Suas tatuagens pelo corpo espalhadas<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Serviram-me de mapa na madrugada<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal"><o:p><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"> </span></span></o:p></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Para relaxar, acendo um dos bons<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Ajuda a lembrar das sensações, cheiros e sons<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">E que teu gemido é como sobremesa,<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O qual degusto na cama, ou sobre a mesa<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><o:p><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"> </span></span></o:p></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">As recordações se misturam com a fumaça<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Sem sucesso, tento entender o que se passa:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">se sempre que vem me envolver, <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="background-color: white;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">o que sente é amor, ou apenas querer</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-85870630544872559192011-01-04T14:30:00.000-08:002011-01-06T16:12:26.202-08:00Maníaco Virtual<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #444444;">O</span><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #444444;"> dia já estava amanhecendo. Cristina ainda não tinha saído da frente do computador. Havia começado a frequentar salas de bate-papo há dois meses. Passava as madrugadas na internet, estava cadastrada em todos os sites de relacionamento possíveis. Mas precisava arrumar “alguém”, como ela mesma dizia. 33 anos, solteira, morava sozinha, teve poucos namorados. Tinha os cabelos negros, olhos profundos e olheiras acentuadas. Mordia os lábios incessantemente, mania que denunciava sua ansiedade. Comia um pedaço de pizza, já era de praxe, um dos motivos para estar acima do peso. Não muito, mas o suficiente para se sentir rejeitada pela classe masculina. Apesar da timidez, era uma mulher doce. Tratava a todos igualmente, desde o porteiro do seu prédio até seus clientes. Ela fazia sites para empresas, algumas delas grandes. Nos últimos meses, o que mais fazia, quando estava conectada, era conversar com pessoas, ou melhor, possíveis pretendentes. Neste momento, conversava com alguém. O homem dizia se chamar Roberto. Ela estava gostando da conversa, ele já havia lhe pedido uma foto. Parou por alguns instantes para ouvir o que o noticiário no rádio informava. Após a trilha, entra o locutor, ainda sem muitas informações, com uma notícia urgente. <o:p></o:p></span></span></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><div style="text-align: justify;"><i><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Mais uma vítima do Maníaco Virtual. Um corpo foi encontrado nesta madrugada de quarta, estava totalmente esquartejado. A polícia suspeita que seja mais um crime do chamado maníaco virtual. Ele atrairia suas vítimas pela internet. Voltaremos com mais informações.<o:p></o:p></span></span></i></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><div style="text-align: justify;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Cristina terminou de escutar a notícia, mas não deu muita bola. Roberto continuava a “falar” com ela. Ele estava tentando convencê-la a encontrá-lo. Os dois sairiam para jantar em um restaurante próximo a casa dele. Cristina ficou pensativa, não sabia se aceitava. Roberto continuou insistindo. Ela cedeu. Estava marcado: jantar às 21 horas no Restaurante Boulevard. Era um bom restaurante. Estava sempre cheio, Cristina não viu problema na proposta. <o:p></o:p></span></span></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Despediu-se de Roberto e foi tomar um banho. Passaria a tarde fazendo um trabalho. Estava saindo do chuveiro quando escutou a campainha tocar. Era o Sr. Alfredo, o vizinho da frente. Um velhinho simpático que, por causa da idade, esquecia sempre de comprar algumas coisas. Dessa vez fora café. Veio pedir um pouco para Cristina, que, como sempre, atendeu o pedido. Sempre educada, tratava-o muito bem, como, aliás, sempre tratava a todos. O homem foi embora e ela foi terminar de se vestir. Passou a tarde toda daquele dia fazendo o site encomendado. Terminou próximo das 18h. E, logo, começou a se arrumar para o encontro com Roberto. Usava um vestido simples, preto. Escolheu o sapato, da mesma cor, que mais gostava. Os cabelos soltos. No caminho até o restaurante, escutou mais algumas coisas sobre o crime da madrugada passada. Estavam todos comentando sobre o Maníaco Virtual – que de virtual não tinha nada – e seus crimes absurdos. Ele atraia suas “presas” por meio da internet, a maioria pessoas solitárias, que vivem sozinhas, homens e mulheres. Após matar, sempre por meio de veneno na bebida, esquartejava suas vítimas. Todas eram encontradas dentro de uma mala preta. Com um cartão preto que dizia: “Eles querem atenção, eu lhes dou”. <o:p></o:p></span></span></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Cristina chegou ao lugar. Viu um homem baixo, com um princípio de calvície, usando óculos. Tinha os olhos grandes e fixos. Fazia movimentos rápidos. Mas claro que não poderia ser Roberto, ele havia mandado uma foto de uma pessoa muito diferente. Ela se aproximou e ele se apresentou. Como primeira reação, Cristina ficou um pouco irritada. Ele pediu que ela sentasse e explicou que tinha mandado uma foto que não era dele e trocado o nome por que ficou com medo que ela não gostasse. É verdade, o nome dele não era Roberto, mas Júlios. Cristina ficou com um pouco de medo, porém continuou com o homem. Ele foi muito agradável. Riram bastante até o final do jantar. Quando estavam saindo em direção ao carro de Cristina, Júlios pediu para que ela fosse até a casa dele. Ela hesitou, ele conversou mais um pouco, e ela acabou indo. Ele morava em um prédio no centro. Convidou-a para subir. Os dois saíram do carro, ele morava no último andar. Era músico. Seu apartamento servia como um estúdio profissional. Todo à prova de som. Cristina ficou sentada no sofá; enquanto isso, Júlios foi buscar um vinho que insistia que a mulher tomasse. Largou as taças em uma mesinha que ficava na sala. Saiu rapidamente de novo, disse que ia buscar uma coisa. Cristina ficou sozinha na sala, bebeu um pouco do vinho. Levantou-se e começou a caminhar pelo lugar. Estava mexendo em uma prateleira quando viu um material suspeito. Júlios tinha uma coleção de DVDs pornográficos. Eram estupros, zoofilia, pedofilia – todo o tipo de coisas abomináveis que se possa imaginar. Júlios voltou neste momento. Perguntou o que Cristina estava fazendo. Uma garoa fina começou na rua, os pingos escorrendo pelas janelas. Júlios tinha apagado a luz da sala, deixando acesa uma única luz da peça ao lado – um toque sinistro àquele momento. Ele repetiu a pergunta, agora em um tom mais agressivo. Cristina, nervosa, respondeu: “Só estava vendo umas coisas. Olha, eu tenho que ir.” Júlios gritou, dizendo que ela não iria a lugar algum. Agora ele bebia o copo de vinho todo de uma vez, caminhava de um lado para o outro. Cristina se afastava, como se esperasse alguma coisa acontecer, algo que parasse o homem. Júlios estava enfurecido, parecia tomado por alguma coisa. Colocou as mãos sobre a cabeça, encarou Cristina. Correu com fúria em direção a ela. <o:p></o:p></span></span></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;"><div style="text-align: justify;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O dia já estava amanhecendo. Cristina está, ao computador, em casa. Ainda com o vestido preto, fala com alguém. No rádio ligado, o locutor começa a falar.<o:p></o:p></span></span></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><div style="text-align: justify;"><i><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A polícia acha mais um corpo esquartejado. Júlios Henrique Werlang, de 42 anos, foi encontrado em seu apartamento, no Centro da cidade. A perícia diz que seria impossível escutarem alguma coisa, já que as paredes do apartamento eram à prova de som. Ainda serão feitos exames, mas os polícias, que encontraram taças de vinho no local, acreditam que ele foi envenenado. Suspeitam que seja mais um crime do Maníaco Virtual. Se for comprovado, seria o sexto caso em dois meses. Ainda procuram pelo assassino. Voltaremos com mais informações.<o:p></o:p></span></span></i></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div></div><div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Cristina se despede de quem falava com ela. Seu nome: Flávia. Haviam marcado um encontro. Cristina desliga o computador, pega os sapatos pretos nas mãos. Encontra seus olhos em um espelho logo à frente. Olhando para si mesma, de maneira irônica, com um sorriso no rosto, conclui em voz alta: “Eles precisam de atenção, eu lhes dou”.</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13pt;"><o:p></o:p></span></div></div>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6770843369462936194.post-38731466234683068442010-12-30T13:31:00.000-08:002011-01-06T16:13:01.426-08:0031<div style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Já passavam das quatro horas da tarde. Estávamos em direção a qualquer cidade do interior, que não sabia ao certo onde era. Nunca gostei de viagens de ônibus, principalmente das vezes em que peguei o ônibus errado. Mas, como de costume, joguei a culpa no fiscal que não me avisou. Estava sentado na poltrona 31, bem na janela. Paramos em mais um ponto. “Parada de 15 minutos”, gritou o motorista. Não quis descer, não gostava daquela gente que vinha no ônibus. Ainda mais pelo clima natalino que trazia o dia 25. Confesso que, por alguns momentos, torci para que aquele ônibus estragasse. Assim, nenhuma daquelas pessoas chegaria em casa. O Natal sempre foi, para mim, uma reunião da família onde todos fingem que nada de ruim aconteceu. Esquecem os problemas, se abraçam. E na outra semana as diferenças voltam. É ridículo, para não dizer podre e hipócrita.<o:p></o:p></span></span></div><div style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Por algum motivo – não lembro bem o que foi –, desci do ônibus. Caminhei até uma lancheria próxima. Vi uma mulher que viajava nos lugares à minha frente. Ela carregava duas crianças. Sou ateu, mas essas crianças começaram a me fazer acreditar que o demônio existe. Disso vocês já podem tirar uma ideia de como eram maravilhosos aqueles "pequenos". Pensei com todas as minhas forças para que o pastel que o mais novo comia estivesse estragado. Nosso ônibus não tinha banheiro e eu tenho péssimo olfato.<o:p></o:p></span></span></div><div style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Segui mais alguns metros até uma mesa do lado de fora do bar. Sentei e pedi uma bebida. Tentei o uísque; já devia ter imaginado que aquela pocilga não teria. Bebi Coca-Cola mesmo. Notei que um homem estava à minha esquerda, também sentado. Ele usava um boné de campanha política, com o número 31, o candidato da propaganda já tinha até morrido. Ele nem devia saber. Tinha a barba mal feita, usava uma bermuda surrada e havaianas. Tinha os olhos cheios de lágrimas. Reparei mais um pouco e notei o motivo do choro. Um menino estava à sua frente. Não parecia sujo, mas também era muito pobre. Usava uma camisa florida (provavelmente doada por um surfista dos anos 70, de tão brega), uma calça jeans desbotada pelo tempo – até por que seria impossível ele saber alguma coisa de moda. O cabelo estava muito bem penteado, todo ele para o lado direito. Acho que tinha passado gel. Os dois conversavam sobre uma viagem, certamente do menino, já que ele tinha uma mala entre as pernas. Eles seguravam um as mãos do outro e choravam. <o:p></o:p></span></span></div><div style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Mesmo não gostando de nada naquele lugar, os choros de pai e filho me deixavam profundamente enojado, mas, ao mesmo tempo, não conseguia parar de prestar atenção naquela cena. O pai repetia diversas vezes que amava o garoto, e o mesmo falava: “Eu também te amo, pai”. As lágrimas caíam. Eu me irritava cada vez mais. Então, lembrei de meu pai, com quem, por sinal, não falo há quatro anos. Tentei lembrar alguma vez em que meu pai disse que me amava. Só me vieram à cabeça os diversos xingamentos e um tapa no meu rosto. O motivo do rompimento de qualquer relacionamento.<o:p></o:p></span></span></div><div style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O homem começou a relembrar de algumas coisas que fizeram juntos. O menino sorria e chorava, assim como seu pai. Eles falavam, quase que em uma só voz, do primeiro dia em que o rapaz andou de bicicleta, do jogo de futebol, do dia em que pescaram juntos. Eu invejei aquele menino como nunca invejei alguém. Tentava entender por que aqueles dois tão pobres, naquele fim de mundo, tinham tantos motivos para sorrir. De repente, recordei de uma vez, a única, diga-se de passagem, que meu pai disse que me amava. Acredito que eu tinha uns oito anos, eu havia passado um dia inteiro com ele. Naquela época, ele me tratava muito bem, era o melhor pai do mundo – costumava chamá-lo assim. Minha mãe ainda era viva naquele tempo. Ela morreu faz 12 anos. Mais ou menos o tempo em que meu pai começou a me odiar. Irônico, não? <o:p></o:p></span></span></div><div style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Os dois continuavam naquele momento familiar, quando o ônibus do garoto chegou. Eles se despediram, pude sentir os dois soluçando e as lágrimas deles pareciam correr no meu rosto. Eles se abraçaram. Foi o segundo abraço mais sincero e bonito que vi em toda minha vida. O menino foi até a porta, olhou para o pai e sorriu. Ainda na janela o garoto continuava a olhar o pai, que o retribuía com os mesmos olhares carregados de ternura e amor. Podia ler nos lábios dos dois uma única frase: “Eu te amo”. Não sei se um dia poderei dizer isso para alguém... A condução partiu. Sem pensar, caminhei até o homem. Parei ao seu lado e o encarei. Ele se virou e também o fez, com o rosto ainda molhado pelo choro. Ficamos alguns minutos nos encarando. De alguma forma parecia que ele decifrava meu olhar, até que disse: "Ele é a única coisa que eu tenho, não gostei da ideia de ele viajar sozinho, mas eu o amo. A gente tem que aprender a apoiar, a compartilhar das ideias, entender a quem nós amamos. Não é mesmo?". A pergunta do homem ecoou na minha cabeça. Fiquei paralisado sem saber o que responder. Ele se virou e começou a partir. Não consegui me mexer. Ao mesmo tempo em que tentava entender por que ele tinha me dito aquilo, sentia que ele sabia de meu pai. Corri até um ônibus que saía para minha cidade. Depois de muito argumentar, convenci o fiscal a me deixar ir junto. Deu-me a poltrona 31, de novo. Tinha que ver meu pai. Tempo era o que mais me faltava, ou melhor, faltava a meu pai. Esqueci de comentar, ele estava no hospital. Seu terceiro câncer. Um no intestino, um na coluna e o último na garganta. Meu pai sempre foi um homem de muitos vícios. <o:p></o:p></span></span></div><div style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Saí de um ônibus ateu, entrei em outro rezando para que ele ainda estivesse vivo. Desembarquei na rodoviária da capital; continuava o mesmo lixo de sempre. Ia pegar um táxi. Vi que o único que sobrava era um carro popular horrível. Neguei-me a pegá-lo, mesmo o motorista tendo me avisado que o próximo iria demorar meia hora. Não podia chegar ao hospital naquele carro, era vergonhoso, conheço várias pessoas na cidade. Diferente do buraco por onde estava passando naquele ônibus velho. Realmente, o outro táxi chegou em exatos 31 minutos. Eu os contei no relógio, não confio em taxistas. Se demorasse mais, processaria a companhia. Peguei o táxi até o hospital onde, segundo um tio, estava meu pai. De carro, o caminho até o hospital não levava mais que 10 minutos, mas pareceram horas. Estava nervoso. Suava frio. Foi assim que entrei no hospital. Fui até o balcão de informações e perguntei por meu pai. A menina respondeu: "Quarto 31, final do corredor". Achei besteira, mas confesso que pensei no fato de meu lugar no ônibus ser a poltrona 31, e por duas vezes... Corri até o quarto, meu coração pulava no peito, minhas mãos tremiam. Eu com medo. Medo de não ter o que dizer, medo de não chegar a tempo, medo de não lembrar como é ser filho...<o:p></o:p></span></span></div><div style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Cheguei ao quarto. E o vi. <o:p></o:p></span></span></div><div style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Ele estava com vários aparelhos, mas com certeza uma sonda em seu pescoço era o que mais apavorava naquela cena toda. Ele abriu os olhos e me viu. Ficamos nos olhando, lembrei do momento em que encarei o pai daquele menino. Eu caminhei devagar até ele. Continuamos a nos olhar fixamente. Ele começou a movimentar uma das mãos, já sem forças. Colocou-a sobre a minha. Foi o momento em que senti a primeira das várias lágrimas que viriam escorrer em meu rosto. Abaixei-me e disse: "Perdão, pai!". Já chorávamos os dois. Por causa dos aparelhos, quando soluçava, ele fazia um barulho que me deixava muito pior. Ver meu pai daquele jeito me deixou com muita raiva de mim mesmo. Senti-me impotente, e era. Ele fez um sinal de positivo com a cabeça, me puxou para junto de si. Nós dois riamos e chorávamos abraçados, sentia o corpo dele, os cabelos, o cheiro, o amor que me passava. Foi o abraço mais sincero e bonito que vi, e o melhor é que participei desse. Com muita dificuldade, ele sussurrava: "Eu te amo”. Eu o repetia e beijava seu rosto, o chamando de “melhor pai do mundo”, como nos velhos tempos. Era uma mistura de dor e felicidade. Dor por ter passado tanto tempo sem fazer isso, felicidade por, finalmente, tê-lo feito. Foi quando uma fisgada surgiu em meu peito. Senti que a respiração de meu pai tinha parado. Os aparelhos confirmavam a sua morte. Foi como se pudesse sentir ele indo embora. A dor era enorme, mas o fato de ter recebido, e dado também, o perdão de meu pai, me deixava feliz. Chorando, eu entendi o que aquele homem quis dizer. Apesar de todas as diferenças, eu amava meu pai, o melhor pai do mundo. E, agora, sabia que ele sentia o mesmo. <o:p></o:p></span></span></div><div style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Isso tudo poderia ser verdade, eu poderia estar feliz por ter falado com meu pai antes de morrer, mas cheguei atrasado ao hospital. Ele havia morrido há 31 minutos. Havia deixado uma carta, dizendo que sentia falta de seu único filho, e entendia os motivos de eu não querer mais falar com ele. Escreveu que me perdoava e que era a maior dor que já sentiu não poder ouvir o mesmo de mim. Descobri depois disso que não ser amado é ruim, mas não poder amar é pior ainda. Assim termino esta carta de suicídio. Não estou morrendo hoje por que não gosto da minha vida, ou por ser uma vítima. Só quero encontrar meu pai e dizer a verdade: eu também o amo.<o:p></o:p></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Ass.: Um certo filho.</span></span><span style="font-family: Tahoma; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>Contos de um luminarhttp://www.blogger.com/profile/07879888092304318299noreply@blogger.com2